Eu não errava um tiro. Era certeiro. Fatal. Os alvos pareciam se jogarem na frente dos projéteis. Eu estava implacável.
Meu revólver, um Schimidt Inglês, cano longo com cabo de madrepérola. Recarregava as balas em segundos e continuava minha defesa. Cada um que chegava apontando a arma eu derrubava. Tudo com um único tiro para cada tombo. Não gastava mais que uma munição por pessoa que caía.
Nada me abalava, não sentia medo. Tudo parecia acontecer em câmera lenta... Era um Herói.
Já tinha 13 anos, mas brincava naquele universo infantil de forma desprendida. Sentia-me oCowboy perfeito. Naquele momento, na minha cabeça de criança não era ficção, eu vivia de fato aquela cena. Uma criança não discerne as coisas.
Alguns policiais que estavam na pracinha, riam e riam de mim. Achavam graça do menininho franzino da roça estar brincando na cidade. Para eles um momento de descontração naquelas cenas ingênuas que assistiam. Eles chegaram até brincar comigo se fazendo com medo do pequeno cowboy embravecido.
Pra mim, um momento mágico...
O menino de Cleveland, Ohio nos USA, não teve a mesma sorte com os polícias que o abateram.
Na sua pureza infantil ele não discernia se a arma era de brinquedo, ele apenas vivia sua viagem momentânea.
Ele não seria capaz de discernir a fala dos matadores: “joga a arma no chão e mãos pra cima”.
Na cabecinha dele, naquele devaneio de herói, não conseguiu separar a ordem das coisas, ele apenas ergueu o magérrimo bracinho com o simulacro na mão, não conseguiu manter a sequência emitida pelo atirador, de jogar no chão e depois erguer os bracinhos. Por isso, o experiente, treinado, preparado e bem pago “policial” deu um único tiro, o da morte instantânea em uma criança negra de 12 anos.